O pai da pequena Laís não é um grande campeão mundial de tênis e sequer conquistou um título de grande relevância nos torneios da Federação Paranaense de Tênis. O curitibano Roger Pereira é jornalista, tem 33 anos, casado com Clarissa e joga tênis desde a adolescência.

O dia a dia conturbado que levava, somado a um grave problema de saúde, não permitiram que ele fosse muito longe na carreira esportiva que almejava. Contudo, embora controverso, não é só de resultados que se faz a carreira de atletas vencedores. Eles também precisam superar limites, lutar e manter o foco; e se tem uma coisa que o Roger entende é de luta e perseverança. E é por isso que desta vez ele é o nosso tenista da semana.

Veja bem, não estamos falando aqui, necessariamente, das lutas do UFC ou daquelas em que o lendário Miike Tyson colocava os adversários para dormir nas noites de boxe da TV Bandeirantes. A luta aqui é pela vida, mesmo! Única e exclusivamente pela chance de acordar mais um dia e ver de perto o brilho nos olhos da pessoa a quem se ama.

Em 2015, o nosso personagem teve uma embolia pulmonar gravíssima. Foi parar na UTI e perdeu 80% da capacidade respiratória do pulmão direito. Segundo ele, “não tinha fôlego para andar do quarto até a cozinha”. Foi uma semana de hospital, um mês afastado do trabalho e mais um ano sem atividades físicas. Somente após a alta médica o tênis voltou a fazer parte da vida de Roger. “O tênis foi fundamental para a minha plena recuperação. No final de 2016 voltei a treinar e jogar torneios da Associação Brasil. Falta muito ritmo ainda, mas pelo menos já estou dando algum trabalho”, orgulha-se.

Roger começou a jogar no Santa Mônica, mas só foi ter aulas específicas mais tarde, na ByTennis, com o professor Leandro Paraná, onde permanece até hoje. “Após a graduação, trabalhando como repórter do jornal O Estado do Paraná, descobri em uma entrevista que o jornal patrocinava um Circuito de Duplas e ganhava a inscrição nos torneios como cortesia, mas não as utilizava. Cheguei no dia seguinte questionando o departamento comercial, que confirmou a informação e alegou que não tinha nenhum tenista na empresa”, explica.

Era tudo o que ele queria ouvir: “Como não? Eu jogo tênis!”, frisou.  Após a insistência, Roger ganhou as inscrições.

Mas, agora faltava o parceiro.

E foi na redação do “Estadinho”, há uns bons anos, onde descobriu que o colega de reportagem, Marcelo Vellinho, havia sido campeão de squash. Apesar de nunca ter jogado tênis na vida, Roger sabia que aquele era o parceiro ideal, levando em conta as possibilidades que tinha. “Pelo menos ele sabia o que fazer com uma raquete na mão. Jogamos todas as etapas do circuito naquele ano e conseguimos surpreendentes vitórias, que até hoje rendem boas histórias nos churrascos da Associação Brasil”, conta. A partir daí virou questão de tempo para que Roger passasse a se dedicar com mais afinco aos torneios de tênis. Ele chegou, inclusive, a ganhar um ou outro nas 6ª e 5ª classses.

Apesar da enfermidade à qual foi submetido, o tenista acha que já está apto a voltar a jogar os torneios da FPT. “Pelo menos na 5ª classe. Descobrirei isso no primeiro final de semana de junho, quando reestreio no torneio da Didier (DRTT). Com 33 anos e com esse problema de fôlego por causa do pulmão baleado, sei que terei dificuldade. Quero usar esse tempo que ainda tenho na categoria A para chegar voando na B, quando fizer 35. Continuarei treinando com o objetivo de ser competitivo numa 3ª B, por exemplo”, enfatiza.

No ano passado, o jornalista iniciou um novo desafio profissional no Paraná Portal, além de ser correspondente do UOL em Curitiba. Cheio de ideias, ele já vislumbra mais uma nova oportunidade. “O portal permite aos seus colaboradores criarem blogs sobre temas que lhes sejam familiares. Tem colega escrevendo sobre música, sobre gastronomia, sobre automobilismo. Numa conversa com o Diego (assessor de imprensa da FPT), surgiu a ideia de criar um blog do tipo ‘inside the game’ em que o repórter narra em primeira pessoa sua experiência nas competições”, revela. A intenção de Roger é começar com o tênis e, adiante, trazer outros repórteres-atletas para o universo do esporte amador do Paraná.

Mesmo após todas as batalhas que já venceu, Roger Pereira diz que não se considera um exemplo de superação. “Por ser jornalista já cobri centenas de histórias incríveis, de gente que realmente merece esse rótulo. Acho que minha história pode servir de alerta para bastante gente. Eu era gordo e, de certa forma, sedentário. O típico atleta de fim de semana. Jogava meus torneios, mas também abusava da alimentação e da bebida. Tomei um baita susto. Mudei minha rotina. Levo os exercícios mais a sério e cuida da forma como me alimento. Já deixei 20 kg para trás e ainda quero deixar mais uns 10”, ressalta.

No esporte e na vida, como diz a letra da música “Mais Uma Vez”, da Legião Urbana, ‘quem acredita sempre alcança’.

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